- Ano: 2020
- Superfície: 196m²
- Localização: Açores - Portugal
Projeto premiado - Menção honrosa no Prêmio IBRAMEM de Arquitetura em Madeira 2020
É recorrente que identificamos na história da arquitetura o resultado da ação do homem sobre um território, o que comumente chamamos de gesto. E é neste gesto que a intenção controladora do arquiteto, como agente fundamental da transformação do espaço, se dá na tentativa de contornar a natureza. Entretanto, a imprevisibilidade da ocupação da natureza e suas apropriações cotidianas, muitas vezes incontroladas pelo gesto, quase sempre mostra a verdadeira vocação do espaço criado pela arquitetura.
E é nesta contradição inerente a qualquer intervenção, que nos aventuramos a pensar a estrutura temporária do pavilhão a ser implantado no Largo de São João em Ponta Delgada – São Miguel – Portugal. A proposta para o pavilhão Walk&Talk 2020 parte de algumas premissas apresentadas pela edital do concurso e é, de certa maneira, um mergulho que fazemos, desde tão longe, para as ilhas dos Açores e suas características e materiais particulares.

A primeira questão relevante foi pensar numa estrutura com a madeira Criptomérica dos Açores, típica da região, aliada com a necessidade dela ser de certa forma autoportante, ou seja, não depender de fundações ou apoios escorados que viessem a danificar o piso da praça, nem mesmo para as infraestruturas. Para isso, foi pensado um sistema de apoio com dois principais volumes que encostam no chão.
No primeiro, maior, estão todas as salas com programas que precisam ser fechados, com as devidas interações com as áreas abertas, como o bar e copa, a cabine de som e os depósitos de bebidas, equipamentos e mobiliário. Este bloco tem perfis da madeira formando um sistema tipo woodframe, e é fechado com chapas de madeira crua pintadas que, além de garantirem estanqueidade, privacidade e segurança nas áreas fechadas, servem de suporte para publicidade, programação e patrocinadores.
O outro apoio, por sua vez, bem mais leve e sem fechamentos laterais, configura a estrutura do palco que fica na periferia da cobertura, fazendo a intermediação entre os espaços cobertos e descobertos. Desta maneira, o pavilhão passa a ganhar mais uma “frente” e, dependendo do uso do palco, passa a se apropriar também do espaço da praça, podendo utilizar a escadaria do Teatro Micaelense como arquibancada. No lado oposto do palco, numa projeção da cobertura em balanço, estão as mesas maiores para a alimentação dos funcionários, artistas e público geral, mas que servem também para uso como oficinas, reuniões e possibilitam um layout que pode ser convencional e flexível ao mesmo tempo.




